O número de sítios arqueológicos cresce no Amazonas, mas Iphan e universidades continuam com poucos profissionais
O maior estado do Brasil, com uma área de mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados – ou duas vezes o tamanho do Chile –, teria tudo para ser o baú do tesouro dos arqueólogos. No entanto, apesar de abrigar sítios de até 9 mil anos, o Amazonas está relegado ao descaso. Enquanto o Iphan tem apenas uma arqueóloga para cobrir todo o estado, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) não oferece curso na área e contratou somente duas arqueólogas temporárias e um técnico. Alguma esperança começou a surgir no fim de 2012, quando a primeira turma de arqueólogos se formou na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A promessa é que outra turma seja oferecida este ano, assim como um curso de especialização. Será o bastante?
Para Helena Lima, arqueóloga e pesquisadora associada ao Museu Amazônico da Ufam, a resposta é negativa: “O ensino e a pesquisa, sozinhos, não resolvem. É importante que haja integração com as pessoas que vivem próximas a esses sítios. Elas muitas vezes levam peças para casa ou as depredam porque desconhecem a legislação”. Segundo Helena, o grande potencial arqueológico do estado merece atenção especial, já que pode ajudar a construir a história local. “O Amazonas sempre recebeu pesquisadores de outras regiões e países, mas agora é a hora de ele mesmo ser produtor de conhecimento e pesquisa”, diz a paulistana que foi ao Amazonas pela primeira vez durante seu doutorado na USP.
Elen Barros, arqueóloga do Iphan no Amazonas, é outra que vem de longe. Nascida na Bahia e formada no Piauí, entrou para o órgão federal em 2010, logo após sua formatura. Desde então tem se esforçado para proteger os mais de 300 sítios do estado e para atender à crescente demanda por trabalhos arqueológicos, obrigatórios por lei em áreas de grandes obras. “Não possuo dados estatísticos, mas posso afirmar que o número de sítios tem se multiplicado, pois há muitos empreendimentos se instalando aqui”, afirma.
Elen garante que já vem conversando com a Ufam e com o governo estadual para criar iniciativas de cooperação técnica. Segundo Maria Arminda Mendonça de Souza, arqueóloga da Secretaria estadual de Cultura e coordenadora pedagógica do curso de arqueologia na UEA, é possível que o estado traga profissionais de outras regiões para ajudar: “Vamos receber jogos da Copa de 2014, então a demanda é muito grande”.
A lista de melhorias necessárias não acaba por aí, já que as estruturas existentes no estado também precisam avançar. “O laboratório de arqueologia da Secretaria do Estado da Cultura precisa de mais espaço. Já a Ufam tem um laboratório três vezes maior, mas que praticamente só funciona como reserva técnica, para guardar material”, denuncia Maria Arminda. É bom que as promessas se tornem realidade, ou com o aumento de empreendimentos, parte da pouco conhecida pré-história amazônica poderá se perder de vez.
Disponível em Revista de História
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