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sexta-feira, 29 de março de 2013

Feudalismo


“Antes do Capitalismo” 
Não é verdadeiro esse papo de que os homens e as mulheres sempre foram doidos pra lucrar e enriquecer. Foi a sociedade capitalista que criou esse bando de gente que só pensa em grana e não hesita em massacrar os outros por causa do dinheiro. Acontece que o capitalismo tem apenas alguns séculos de existência. Antes de ele surgir, na Europa ocidental, havia um outro tipo de sociedade, na qual investir e acumular capital não eram sequer imaginados. Ninguém sonhava que um dia consumir e consumir seria a suprema glória da existência humana. 

Estamos falando da sociedade feudal. O capitalismo vai nascer e se desenvolver exatamente dentro do feudalismo. Portanto, conhecer o funcionamento do modo de produção feudal nos ajuda a conhecer as origens do capitalismo. 

“Como surgiu o feudalismo” 
O feudalismo nasceu depois que o império Romano virou picadinho por causa das invasões bárbaras no século V. Entretanto, os invasores bárbaros não liquidaram completamente a civilização romana. Na verdade, as novas sociedades que surgiram na Europa foram o resultado da mistura de elementos da sociedade romana com elementos da sociedade dos invasores germânicos. 

“O Feudalismo” 
Para entender o feudalismo, temos que lembrar que a história existe mesmo. O que queremos dizer com isso? Que a economia funcionava de um modo totalmente diferente de hoje, quando vivemos num mundo capitalista. Lembre bem, no feudalismo investir e lucrar não eram os objetivos econômicos. 

A sociedade feudal era basicamente rural. Isso quer dizer que quase todas as pessoas viviam no campo. O trabalho na agricultura era pesado e cansativo, mas os trabalhadores camponeses ficavam com poucos frutos. O motivo ‚ que as terras pertenciam a uns poucos privilegiados, os nobres. 

Os nobres, também chamados de senhores feudais, eram proprietários do feudo. Eles tinham uma vida mansa. Moravam no castelo, não trabalhavam nem um pouco e passavam boa parte do dia se empanturrando de comida e bebida. Usavam boas roupas, gostavam de ouvir a música dos trovadores e eram grandes guerreiros, utilizando pesadas armaduras no campo de batalha. É claro que essa mordomia toda só era possível porque o senhor feudal (o nobre) vivia à custa do trabalho dos servos. 

Os servos não eram escravos, pois não pertenciam aos nobres. Não podiam ser vendidos para outro senhor feudal. Mas também não eram livres a ponto de ir procurar emprego onde quisessem. Portanto, ainda não existiam anúncios classificados na porta dos castelos. Os camponeses servos tinham direito a usar um pedaço de terra do feudo para cultivar para si e para criar alguns animais. Observe que o senhor feudal não fazia nenhum investimento, e até mesmo os instrumentos de trabalho (foices, machados, ancinhos,bois para movimentar o arado) pertenciam aos servos. No final, os servos acabavam ficando apenas com uma parte do que haviam produzido, pois deviam muitas obrigações feudais ao nobre. Vida dura, a dos servos. trabalhavam como mulas e, sempre ameaçados pelo fantasma da fome, dormiam perto do chiqueiro e acordavam com os bichos. 

O feudo era, antes de tudo, uma grande propriedade rural, um latifúndio. O trabalho era todo realizado pelos servos. Eles tinham que cultivar a área senhorial ( de 30% a 40% da área total do feudo). Havia ainda as terras comunais, utilizadas tanto pelo senhor (por intermédio do trabalho dos servos domésticos quanto pelos camponeses. Essa área servia de pastagem a animais, colheita de frutas e madeira e era exclusiva para a caça do nobre. 

O senhor feudal morava em seu castelo, em geral um confortável casarão de madeira. Só no apogeu do feudalismo, e pertencentes a grandes senhores, que os castelos seriam de pedra. Os camponeses moravam mesmo em barracos de barro e palha, pulguentos e gelados. Sem televisão para fazer esquecer a própria miséria. 

A economia do feudo tendia a ser de subsistência, ou seja, o feudo geralmente produzia apenas para a sobrevivência das pessoas que viviam nele. A produtividade era baixa e por isso sobrava pouco para comerciar. O que nos leva a concluir que o comércio e as cidades (que dependem da comida produzida no campo) eram pouco desenvolvidos. 

“As obrigações feudais” 
Os senhores feudais exploravam descaradamente os servos. Aparentemente, havia uma comunidade entre eles (e não um contrato assinado, como há no capitalismo): os servos trabalhavam enquanto o senhor lhes dava proteção em caso de guerra e abrigo em caso de calamidade. Na prática havia mesmo ‚ coerção: o nobre tinha a seu serviço um bando de cavaleiros mal-encarados e armados até os dentes, prontos para meter a espada no servo desdentado metido a desobediente. 

Assim, o servo devia diversas obrigações aos senhores feudais. As mais destacadas eram: 
  • Corveia. Trabalho de graça do servo, alguns dias por semana, em área senhorial. Também havia a obrigação de construir pontes, reparar o castelo, elogiar o nobre e dizer que ele era muito inteligente e generoso... 
  • Talha. O servo devia entregar ao senhor feudal parte de sua colheita (uns 10%) e uma O importante quantidade fixa de aves, mel, ovos, porcos, objetos de madeira e lã. 
  • Banalidades. Inúmeras taxas, criadas a inúmeros pretextos, e que não eram nada banais. Podiam ser taxas pelo uso do moinho, do forno, lagar (tanque para espremer uvas e fazer vinho), multas, impostos para comprar equipamentos militares e mais outros tantos. 
“A fragmentação Política” 
No apogeu do feudalismo, entre os séculos IX e XIII, a Europa estava dividida em inumeráveis feudos. Cada um deles era um mini-mundo isolado, com suas próprias leis, cobranças de impostos, força armada. Todos esses feudos, claro, seguiam a vontade dos seus proprietários nobres. O rei, portanto, não passava de um grande nobre, com pouca autoridade além do próprio feudo. Não tinha controle sobre todos os súditos. 

A hierarquia feudal teve origem nas guerras do passado, ainda no tempo das invasões bárbaras. Um grande chefe militar vencedor distribuía as terras conquistadas para seus auxiliares mais próximos, que assim se tornavam seus vassalos. 

Os vassalos tinham a obrigação de dar apoio militar ao seu suserano (o chefe que lhes tinha cedido um feudo), de pagar o resgate se ele fosse capturado numa batalha, de puxar o saco dele e rir de suas piadas sem graça. 

Os vassalos também podiam distribuir parte de suas terras para pessoas que seriam, por sua vez, seus vassalos, e assim por diante, numa corrente que unia desde os senhores feudais mais poderosos, até a pequena nobreza. Repare que os servos, de certa maneira, eram o grau mais baixo da hierarquia da vassalagem. 

“A Igreja católica e o feudalismo” 
A Igreja católica era extremamente poderosa. Em primeiro lugar, porque a maioria das pessoas era católica fervorosa. Depois, porque a Igreja era rica, dona de vastos feudos. Muitos de seus bens vinham de doações que nobres deixavam em testamento. Geralmente, os altos postos eclesiásticos (da Igreja) eram preenchidos por filhos da nobreza. Ou seja, a cúpula da Igreja e os nobres pertenciam à mesma classe dominante, a dos senhores feudais. 

A Igreja também dominava a vida cultural. Assim como os servos se subordinavam aos senhores, a vida cultural era serva dos padres. Os clérigos (homens da Igreja ) eram das poucas pessoas que sabiam ler. Numa época em que não havia televisão nem programas de auditório, a Igreja era uma grande fonte de informação e até de lazer. Tudo o que se dizia e se pensava devia ter a autorização dela. Quem a contrariasse era considerado um herege (inimigo do cristianismo) e atirado numa masmorra fria e úmida ou numa quente e sequinha fogueira. 

Como se vê, a Igreja tinha um importante papel político. Ela era aliada dos senhores feudais e muitas das idéias que difundia serviam para tornar as pessoas mais obedientes aos nobres. Nos sermões dos padres, os camponeses ouviam abobrinhas do tipo "é preciso se conformar com a pobreza, pois foi Deus quem a desejou". É por isso que muitas revoltas sociais contra a exploração feudal foram consideradas heresias. Outra ideia difundida era a de que a sociedade feudal seria eterna, pois teria sido Deus que desejou que "uns rezassem (a Igreja), outros combatessem (os nobres) e outros trabalhassem (os servos)". Desse modo, os trabalhadores estavam subjugados pela espada e pela cruz. 

“A justiça feudal” 
Imagine que um servo se sentisse injustiçado pelo senhor feudal. A quem ele iria reclamar? Àquele que controlava as leis e julgamentos no feudo, ou seja... o próprio senhor feudal! 

O nobre poderia, gentilmente, propor para "deixar o julgamento nas mãos de Deus". como seria isso? O servo deveria segurar um ferro em brasa, ou então ser amarrado a uma pedra enorme e atirado no fio: diziam que se ele fosse inocente Deus não o deixaria queimar-se ou afogar-se... Dá para perceber que poucos servos conseguiam o que queriam. 

“Novas forças econômicas” 
A partir do século IX a economia feudal européia começou a se desenvolver com firmeza. Já não existiam mais 

os ataques dos povos bárbaros nem as pestes (epidemias de doenças mortais) que tanto tinham preocupado a Europa nos séculos anteriores. 

Descobertas tecnológicas permitiram o crescimento da produção. Isso resultou em mais comida e bebida na mesa, melhores roupas e mais objetos - não só para os nobres mas até para alguns servos. É fácil reparar que essa melhoria nas condições de existência estimulou o crescimento da população. O efeito também foi inverso: mais gente, mais produção, mais desenvolvimento econômico. 

Muitos feudos começaram a produzir excedentes, ou seja, mais do que precisavam para manter sua sobrevivência física. Era possível então vender esse excedente e, com o dinheiro obtido, comprar outras coisas, vindas de outras regiões. Dá para perceber que por causa disso, o comércio cresceu um bocado. As moedas, muito úteis no comércio, adquiriram maior importância. Quanto mais desenvolvido é o mundo das mercadorias, maior o poder do dinheiro. Quanto mais poderoso é o dinheiro, mais frágeis são os homens... 

Era comum os comerciantes se reunirem em alguns locais para trocar mercadorias, informações e moedas, para beber e contar vantagens sobre suas conquistas amorosas. Tratava-se das feiras medievais. Algumas dessas feiras ficaram tão importantes que se tornaram permanentes e deram origem a cidades. 

Nas cidades vivia a maioria dos comerciantes e artesãos, que vendiam ou faziam as mercadorias que os nobres tanto apreciavam. A cidade e o campo foram especializando suas atividades econômicas. Ou seja, enquanto o campo se dedicava principalmente à agricultura e à criação de animais, as cidades começaram a concentrar os artesãos e comerciantes. Os nobres apreciavam sua mercadorias vendidas pelos comerciantes e artesãos, e não hesitavam em botar a mão na bolsa e pagar em ouro. Com isso, claro, as cidades foram crescendo e enriquecendo. Como muitas delas ficavam dentro das terras dos nobres, também tinham que pagar tributos feudais. Mas a partir do século XIV muitas cidades tinham se tornado ricas o bastante para se libertar dos senhores feudais e obter plena autonomia. 

As cidades medievais, cercadas de muralhas de proteção, tinham o nome de burgos. Nelas, moravam os trabalhadores e a classe social que estava nascendo e que daria muito o que falar: a burguesia. 

“A crise do século XIV” 
No século XIV, aconteceu a primeira grande crise do feudalismo. Simplesmente, a economia feudal não consegui mais produzir o suficiente para alimentar a população que crescia cada vez mais. É fácil entender. Os senhores feudais não investiam em tecnologia. Por causa disso, o aumento da produção agrícola tinha vindo, principalmente do desbravamento de novas terras. Chegou um momento em que não havia mais terras disponíveis para ampliar o cultivo. Veio, então, a fome. Para piorar, os nobres e os reis aumentaram os impostos. Como sempre, os pobres é quem pagaram o pato, sem comer tal pato. Aliás, sem comer quase nada. 

O comércio italiano com os árabes levou para a Europa tapetes, porcelana, especiarias e ... a PESTE NEGRA. Os burgos estavam entulhados de gente que vivia em casebres mergulhados em esgotos e habitados por certos animaizinhos domésticos sorridentes e peludos como ratos. Como você sabe, os ratos podem transmitir muitas doenças. Foi o que aconteceu. A peste bubônica fez seus estragos: quase 40% da população do continente morreu. Foi uma catástrofe demográfica. A população da Europa só voltaria a ser a mesma no século XVII. 

Cidades inteiras foram abandonadas. A mão fria da morte fez faltar mão-de-obra nos feudos. As rendas dos senhores feudais caíram. Muitos deles tiveram que vender seus bens para pagar o que deviam aos banqueiros. Pra se segurar, a nobreza caiu de sola em cima dos mais fracos: aumentou o número de tributos sobre os servos humildes e descalços. Estouraram então muitas rebeliões camponesas. As mais famosas foram as jacqueries, na França. Os camponeses invadiam os castelos e tomavam tudo o que podiam. Depois, dividiam entre si as terras do senhor feudal. 

“Até quando durou o feudalismo?” 
A burguesia e as relações de produção capitalistas germinaram por volta dos séculos XI e XII, quando começou um intenso crescimento urbano e comercial. Elas foram se desenvolvendo no interior do feudalismo como uma praga que cresceu até destruir a sociedade feudal. Quando essa destruição final aconteceu? No momento das revoluções burguesas. Foram elas que garantiram o triunfo do capitalismo e da burguesia. Na Inglaterra, por exemplo, a revolução ocorreu em 1640-1689. Na França, em 1789-1814. Na Europa, no Japão e nos Estados Unidos o capitalismo afirmou seu domínio pleno durante o século XIX.

Disponível em www.iaulas.com.br

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