O
Oriente Médio é atualmente uma das regiões mais conflituosas do planeta – se
não a mais conflituosa de todas. É uma região
que comporta pretensões de duas grandes religiões – o judaísmo e o islamismo –
e uma que possui grandes quantidades de depósitos energéticos, como o gás
natural e o petróleo. Durante todo o
século XX, especialmente durante e após a guerra fria, esta região cresceu cada
vez mais em importância, e o radicalismo adotado pela política de seus
habitantes, aliada ao profundo desejo de estrangeiros de se beneficiarem das
riquezas naturais da região, ensejou conflitos que ainda hoje podemos observar
e que não têm solução em vista.
O conflito árabe-israelense na
Palestina
A região da Palestina – Antes da formação do estado de
Israel, a região da Palestina era habitada por uma maioria esmagadora de muçulmanos,
com um pequeno contingente de católicos.
Até o final da Primeira Guerra Mundial, essa região era parte do Império
turco otomano. Ao fim da Primeira Guerra a região passou a participar do
império britânico, até o movimento de descolonização e a fundação do estado de
Israel em 1948. A região foi, até 1880,
habitada quase que unicamente pelos palestinos locais que, apesar de terem religiões
diferentes, não tinham conflitos internos.
O sionismo – Em 1897, diante do crescente antissemitismo
que se podia perceber na política europeia, o austríaco Theodor Herzl
desenvolveu uma ideia de que os judeus, que há mais de mil e oitocentos anos se
espalharam por todos os cantos do mundo, voltassem a ter uma “terra pátria”. A região da palestina era a escolha óbvia,
pela presença da cidade sagrada de Jerusalém.
Após a
I Guerra, tendo controle da região da Palestina, a coroa inglesa começou a permitir
e facilitar a migração de judeus para Jerusalém, como desejavam os banqueiros
ingleses. Isso em si já geraria problemas,
pois durante e após a I Guerra os ingleses também se comprometeram com os
palestinos a defender sua autonomia ou seus interesses, para que em troca os locais
agissem de modo a ajudar na derrota do Império Otomano.
A fuga do nazismo e os primeiros conflitos – Com a ascensão de Hitler na
Alemanha, o fluxo de judeus que migravam para a Palestina aumentou dramaticamente,
bem como para outras localidades. Com o aumento do número de judeus, começaram
a surgir os primeiros conflitos; os palestinos temiam a perda de terras com a
chegada de tantos estrangeiros, e os judeus respondiam com força às agressões
palestinas, agravando as tensões.
A fundação de Israel – Diante das crescentes tensões e dos
recorrentes conflitos entre palestinos e judeus, a ONU decidiu mediar o
conflito, a pedido dos judeus unidos, sugerindo que a Palestina fosse dividida
em duas partes, para que comportasse harmonicamente os dois povos
conflitantes. Entretanto, tal solução não
foi bem-sucedida, pois não alcançou uma partição que agradasse ambos os lados –
já que Jerusalém, em especial, não podia ser dividida. Já os ingleses, que até então
tentavam manter a paz na região, retiraram-se de lá em 1948, tendo problemas financeiros
próprios a tratar e indispostos a incorrer prejuízos com esta região.
Imediatamente
após a retirada inglesa os judeus declaram a fundação do estado de Israel,
sendo automaticamente reconhecido pela URSS.
Stalin já tinha tido problemas com muçulmanos em seu país (fé majoritária
entre os palestinos) e não tinha tido ainda muita sorte em cooptar para o seu
lado da guerra fria os países da região do Oriente Médio. Esperava que Israel
se tornasse um poderoso aliado. Entretanto,
na medida em que ficou clara a relação entre Israel e os judeus banqueiros dos
países liberais, especialmente Inglaterra e Estados Unidos, Stalin e afastou de
Israel diplomaticamente.
Diante
da fundação de Israel, os palestinos se mobilizaram para combater este inimigo
que se formava. Diversos países árabes saem em socorro dos palestinos, ocupam a
faixa de Gaza e a Cisjordânia, mas perderam a guerra diante do exército israelense,
financiado por poderosos judeus de cidades como Nova York e Londres. Acima
podemos ver a atual disposição política dos estados do Oriente Médio.
O
Egito de Abdul Nasser – O oficial militar Abdul Nasser emergiu como presidente
do Egito em 1953 após o golpe de Estado de 1952 que pôs fim à monarquia no
país. Ele ficaria como presidente do
país até 1970. Nasser realizou amplas
reformas no país, tirando o poder da antiga classe dos grandes proprietários de
terra exportadores de algodão que sustentavam a antiga monarquia. Ele realizou uma ampla reforma agrária, limitando
o tamanho da terra e dando terra a um grande grupo de lavradores sem-terra, o
que diminuiria a pobreza do país. Nasser
ainda realizou nacionalizações, como do canal do Suez em 1956 e construiu, com
a ajuda soviética, diversas indústrias pesadas dando autonomia à economia do
país. Enfim, torna o Egito também um
local de refúgio para centenas de milhares de refugiados que perderam suas
casas e famílias durante os confrontos entre palestinos e judeus.
Visto
no Egito como um salvador da pátria, logo Nasser se tornaria um símbolo de
libertação contra a opressão dos judeus e de seus “comparsas”, como eram
percebidos países como Inglaterra e Estados Unidos. Contente com a situação, a URSS se aproximou
de Nasser e de seus aliados, e nos conflitos com os judeus frequentemente a
URSS prestaria algum tipo de auxílio.
A
nacionalização do canal de Suez foi um duro golpe ao ocidente, como veremos
mais abaixo. Em seguida a esta ação,
Israel invadiu o Egito e Inglaterra e França atacaram a região do canal,
insatisfeitos com a ação que lhes retirou a posse do mesmo. No entanto, diante da ameaça de falta de petróleo
na Europa, a comunidade Internacional recuou e pressionou os agressores a
recuar. Seria a primeira grande
demonstração da força que o petróleo adquiria no cenário internacional.
Em seu
papel como herói dos árabes, Nasser envolveu seu povo em numerosas guerras e
conflitos. Com tal uso dos recursos
nacionais para fins de guerra, a situação econômica egípcia custava a melhorar,
e seus habitantes ainda reclamavam da miséria na qual se encontravam.
O
sucessor de Nasser, Anuar Sadat, diante desta situação, decidiu mudar radicalmente
a postura de seu país. Afastou-se dos conflitos da região e da URSS e se
aproximou dos EUA. Promoveu a paz com Israel, assinada em Camp David em 1978.
No entanto, foi considerado por segmentos árabes como um traidor e assassinado
em 1981.
Guerra dos Seis Dias (1967) – Os judeus acreditavam que, apesar da
relativa paz, a guerra logo viria; que os palestinos ainda estavam descontentes
com a presença dos judeus naquele território, e que não agiam por não possuírem
forças suficientes para sobrepujar o moderníssimo exército israelense. Decidiram,
portanto, realizar um ataque surpresa aos palestinos, de modo a evitar que
estes pudessem desferir o primeiro golpe.
Tendo
durado seis dias em seu total, o ataque surpresa destruiu boa parte da frota de
aviação egípcia e conquistou amplos territórios.
Ao fim
desta, a ONU ordenou Israel a devolver os territórios conquistados, mas tal ato
não foi cumprido.
A organização dos palestinos – Foi fundada em 1964 a OLP
(Organização para a Libertação da Palestina).
Tal grupo tinha por objetivo principal unir os palestinos em seus
esforços para recuperar as terras que lhe haviam sido usurpadas pelos judeus invasores,
como os viam. Após a derrota na guerra
de seis dias, a OLP se radicalizou, e em 1969 Yasser Arafat se tornaria seu
líder. Arafat defendia o uso da força, e
formou um ramo militar dentro da OLP, o Al Fatah.
Sob Arafat, a OLP realizou inúmeros atentados terroristas aos judeus, como o assassinato dos atletas israelenses na olimpíada de Munique em 1972. Os israelenses reagiam atacando países palestinos, sendo incapazes de localizar os membros de tal organização ou seus líderes. Tal fato levou inclusive a conflitos entre a OLP e países palestinos, que desejavam que tais ataques cessassem pois eram eles que estavam recebendo as represálias. A mais famosa destas fricções ficou conhecida como Setembro Negro, quando em 1970 o rei da Jordânia mandou tropas para um acampamento de refugiados palestinos diante da recusa de Arafat de desistir do curso de ação terrorista.
Guerra do Yom Kippur (1973) – Este conflito foi um iniciado pelos
palestinos. Sabendo que o dia de Yom Kippur é um importante dia de celebração
no calendário judaico, os palestinos o escolheram como data de início de um
grande ataque, contando com o fato de que muitos soldados estariam de licença. Estavam corretos. Entretanto, ainda com o elemento surpresa as
tropas palestinas e de seus aliados, mesmo com o apoio indireto da URSS, se provaram
incapazes de vencer as tropas israelenses, que no decorrer de três semanas
reconquistaram todas as terras perdidas, antes que a ONU pusesse fim ao
conflito.
A Intifada – Em 1987, entre os muitos
enfrentamentos que caracterizavam as constantes tensões entre palestinos e
israelenses, um se destacou: foi chamado de Intifada.
Neste
ano, quatro palestinos foram atropelados por um caminhão israelense. Indignados, palestinos residentes da faixa de
Gaza se revoltaram contra os israelenses, marchando às ruas e atacando soldados
com pedras, paus e qualquer outro objeto que pudesse ser improvisado como arma. Os judeus responderam com balas de borracha,
bombas de gás e tanques.
O que
torna a Intifada um evento especialmente significativo foi o fato de a ONU ter
tomado o partido da OLP e condenado as ações de Israel. Neste cenário, um
estado livre da Palestina foi declarado em 1988.
A Revolução Iraniana – Até 1979, imperava no Irã – um país
riquíssimo em petróleo – uma dura ditadura de direita liderada pelo Xá Reza
Pahlevi, que era fielmente alinhada aos interesses norte-americanos. A rígida e tradicional cultura islâmica
iraniana, entretanto, produzia obstáculos e críticas a Pahlevi, que reprimia
seus opositores duramente, prendendo-os ou forçando seu exílio. De Paris, o Aiatolá Khomeini insuflava a população
a não permitir que tal deturpação do credo islâmico.
Em
1979, uma sublevação ocorreu no país, que foi denominada Revolução Iraniana.
Esta depôs Pahlevi, tomou a embaixada dos EUA na capital e instituiu uma
democracia islâmica, submissa a um grande líder religioso, o Aiatolá. O primeiro a ocupar tal posição, e que passou
a simbolizar para muitos a causa islâmica em sua defesa contra os valores
corrompidos do ocidente, foi justamente Khomeini. Desde então, EUA e Israel –
os quais os líderes políticos e religiosos iranianos chamam respectivamente de grande
e pequeno satã – tiveram sérios desentendimentos com o país. Primeiramente, os
norte-americanos armaram o seu então aliado, o ditador iraquiano Saddam
Hussein, contra o país na Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Mais recentemente, o Irã foi incluído no
assim chamado Eixo do Mal, grupo de países antipatizados por Bush, vistos como
inimigos da democracia, da liberdade e dos direitos do homem.
O Iraque – O país foi aliado dos EUA durante a
guerra Irã-Iraque, armando e apoiando o ditador Saddam Hussein. Entretanto,
depois do fim deste conflito as relações entre Hussein e EUA deterioraram, até
que, em 1990 o líder iraquiano decidiu invadir o Kuwait, alegando que
historicamente aquela região deveria fazer parte do Iraque.
Estando
o Kuwait em uma região também riquíssima em petróleo, os EUA não desejavam que
tal região caísse nas mãos do bem armado e nada confiável ou previsível Saddam
Hussein. Afirmando que a guerra injusta,
o governo norte-americano criou uma coalizão internacional para conter a
invasão iraquiana ao Kuwait: foi a chamada Guerra do Golfo. Em 2003, os EUA atacariam novamente o Iraque,
sob a premissa de que seu líder estava desenvolvendo e já possuía armas de
destruição em massa. Deste conflito
resultou a morte de Hussein por enforcamento.
Afeganistão – Os norte-americanos também foram
aliados da milícia extremista islâmica talibã, durante a ocupação soviética do
país, de 1980 a 1989. Com o fim dessa
guerra, estabeleceu-se um regime extremista religioso no país com graves
Desrespeitos
às liberdades individuais e às igualdades básicas. Os EUA invadiram o país em 2001, como resposta
quase imediata aos ataques de 11/09/2001, afirmando que o Afeganistão oferecia
subsídios ao terrorismo internacional, especialmente à Al-Qaeda, à qual a inteligência
norte-americana atribuiu os atentados.
A Força do Petróleo – Até a década de 1950 o petróleo do
Oriente Médio vinha sendo extraído por empresas europeias e fornecia o mercado ocidental
com energia abundante e barata.
A
partir de 1956, com a nacionalização do canal de Suez por Nasser, a figura
mudou. Os países produtores logo
perceberam a dependência global acerca do petróleo e decidiram explorar tal
abundância para fins políticos.
Em
1960 foi fundada a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo). Seus
membros julgavam com razão que os preços do petróleo eram injustificadamente
baixos e que tais preços não levavam em conta os interesses dos países que o
produzia, apenas dos que o comprava.
Em
1973, os membros da OPEP eram responsáveis pela produção de mais da metade do
petróleo mundial. Com o aumento de sua
força, a organização começa a aumentar os preços do recurso, ensejando a primeira
crise do petróleo, levando Descontentamento ao Ocidente. Para complicar sua situação, certos países
que compunham a OPEP começaram a ouvir as reclamações de seus aliados ocidentais,
diminuindo a força do grupo enquanto tal – a Arábia Saudita, por exemplo, tradicionalmente
aliada aos EUA, foi um país-membro que reagiu a tais aumentos.
Em
1979 haveria uma segunda crise do petróleo.
Entretanto, após a primeira crise, o Ocidente pareceu tentar ativamente
reduzir sua dependência do petróleo tentando instaurar programas energéticos alternativos
(como o Proálcool no Brasil). A
multiplicação de fornecedores que não pertenciam ao grupo – como o Brasil –
também agiu como força para a estabilização dos preços do recurso, que a partir
de então se estabilizou (ainda que a um preço mais de dez vezes maior do que
O que
era em 1950).
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