Nas eleições de 1960, Jânio da Silva Quadros, apoiado pela UDN, elegeu-se presidente com expressivos 5 636 623 votos. Concorrera com o general Lott, candidato da aliança PSD- PTB-PSB, que obteve 32% (3 800 000) dos votos. João Goulart (PTB) foi reeleito para a vice-presidência com 4 500 000 votos (na época podia-se votar para presidente de um partido e vice-presidente de outro).
Em parte, o sucesso eleitoral de Jânio devia-se ao seu estilo político: um populismo extremamente personalista e carismático que o ajudara a se eleger vereador, prefeito de São Paulo em 1953 e governador no ano seguinte. Ao contrário de Getúlio e Ademar de Barros, sua força não se baseava em esquemas partidários e sindicais ligados ao Estado. Ela resultava da combinação da insatisfação generalizada de massas trabalhadoras e camadas médias, cujo nível de consciência era Ilimitado, com o estilo mobilizador moralista e "renovador" de ,Jânio Quadros.
Apesar do caráter populista, o governo Jânio foi marcado por uma economia conservadora. Afinal, herdara do governo anterior uma inflação de 25% ao ano e uma dívida externa alta para os padrões da época (1 bilhão e 365 milhões de dólares). No início, o governo janista organizou projetos de controle de créditos, medidas anti-inflacionárias, congelamento dos salários, redução de emissões de papel-moeda, o que agradou ao FMI (Fundo Monetário Internacional), permitindo amplos empréstimos externos.
No entanto, já no mês de abril, Jânio mudou sua estratégia, diminuindo o controle rígido da economia, concedendo créditos mais fáceis e retomando uma inflação mais compatível com a política continuadora do desenvolvimentismo. O governo passava a seguir a orientação dos setores desenvolvimentistas. Essa política de oscilação não se limitou ao setor econômico. Na condução da política externa, o governo janista tentava uma independência em relação ao bloco imperialista dos EUA. Assim, não só defendeu o governo cubano de Fidel Castro, como também condecorou, no Brasil, Ernesto Che Guevara, então ministro da Economia de Cuba.
Mas o apoio ao governo comunista cubano não se dava por simpatias ao regime; pelo contrário, Jânio sempre se posicionou publicamente como anticomunista fervoroso. O problema era o impasse nos rumos a serem seguidos, pois o país atravessava um período de crises: ou controlava o crescimento e a inflação como queriam os setores dos banqueiros internacionais, ou continuava o crescimento industrial. Assim, as oscilações janistas evidenciavam a falta de uma perspectiva política crescente.
Como se não bastassem essas hesitações, Jânio foi também gradativamente perdendo o apoio dos funcionários públicos, os quais se irritaram quando o governo decretou o aumento da jornada de trabalho. Diante das pressões, Jânio voltou atrás, porém perdeu o apoio dos setores desejosos da moralização estatal. Sua relação com os políticos também foi desastrosa, pois Jânio constantemente ameaçava promover investigações nos governos anteriores, além de denunciar a corrupção e o descontrole financeiro do período JK. Por essa razão, acusando o PSD de ser o que sempre foi, e ganhando portanto poderosos inimigos no Congresso, rapidamente isolou-se do poder.
Apesar de tudo, Jânio tentou uma última saída: renunciou, em 25 de agosto de 1961, à presidência da República, esperando que pelo menos algum setor da sociedade brasileira lhe desse apoio, pois:
- contava que os políticos, em especial os da UDN, lhe concedessem amplos poderes para governar;
- imaginava que os militares lhe fornecessem cobertura, porque as Forças Armadas consideravam "perigoso" Jango (como era conhecido João Goulart) na presidência;
- acreditava que as classes populares fizessem manifestações públicas, exigindo sua volta ao poder.
Mas nenhum dos três segmentos sociais se decidiu a sustentá-lo. Afinal, os impasses econômicos e políticos inviabilizaram o apoio dos dois primeiros, que imediatamente aceitaram sua renúncia. E as classes trabalhadoras, prejudicadas pelas medidas de controle econômico e instabilidades governamentais, não se manifestaram a seu favor.
Jânio deixou o país à beira de uma guerra civil, pois aproveitara-se da ausência de João Goulart, que se encontrava em visita oficial à China comunista, para renunciar.
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