Para a maioria das pessoas, a palavra “império” lembra soberania, riqueza e poder; está ligada ao mundo dos reis e rainhas. No entanto, a partir da metade do século XIX até o início do século XX, algumas nações industrializadas, como Inglaterra, na Europa Ocidental, os Estados Unidos, na América do Norte, e, um pouco após, o Japão, na Ásia, transformaram-se em grandes impérios, através da expansão econômica e territorial, estabelecendo colônias, principalmente nos continentes africano e asiático. Os impérios que se formaram, neste período, não implicaram necessariamente na existência de reis e rainhas, mas no domínio econômico de grandes empresas (monopólios), na importância do capital fnanceiro (dos bancos), na ocupação de certas áreas do globo e na imposição da cultura ocidental aos povos dominados. Essa nova forma que o Estado se configurou foi chamada de Imperialismo, conforme explicação no quadro.
Para você entender como ocorreu este processo, é preciso conhecer as mudanças científicas, tecnológicas e econômicas que ocorreram em meados do século XIX.
Este século foi marcado pelo desenvolvimento tecnológico. As pesquisas tecnológicas proporcionaram transformações em todos os setores ligados à produção (motor à combustão), ao transporte (automóvel), à comunicação (a invenção do telégrafo e do telefone) e à utilização de novas formas de energia, como a eletricidade e o petróleo. A indústria química passou a fabricar corantes artificiais. Surgiram a fotografa e o cinema. Esse período de grandes inovações ficou conhecido como Segunda Revolução Industrial.
Como conseqüência dessas transformações, as nações industrializadas disputaram colônias e impuseram seu domínio, direto ou indireto, à Ásia, África, Oceania e América Latina. Isto ocorreu através da dependência econômica ou através da ocupação, de fato, da região.
Na América Latina não houve ocupações territoriais como na África e parte da Ásia. O domínio imperialista na África, América Latina e Ásia manifestou-se por meio da influência política e econômica, principalmente dos Estados Unidos e da Inglaterra. Estes Estados realizaram investimentos e concederam empréstimos com elevadas taxas de juros, capital para ser investido em serviços públicos (construção de ferrovias e empresas de iluminação pública, por exemplo) e na produção industrial. Vastas áreas dos continentes africano e asiático foram sendo ocupadas pelas nações europeias, EUA e Japão, transformadoras em colônias.
Diferente da ocupação colonial dos séculos XV e XVI, concentrada no continente americano, restrita ao capitalismo comercial, – cuja meta era a obtenção de produtos tropicais, especiarias e metais preciosos –, a nova partilha territorial, ocorrida no século XIX, foi incentivada pelo capitalismo industrial e financeiro e as nações industrializadas, principalmente a Inglaterra, visavam à expansão econômica e militar – pois necessitavam de locais para o abastecimento em matérias-primas, de postos para as suas frotas mercantes e militares, de mercados consumidores de suas manufaturas e, ao mesmo tempo, fornecedores de mão-de-obra barata para suas indústrias.
Justificativas e rivalidades nas disputas coloniais
Os maiores benefciados nesse processo industrial imperialista foram as empresas europeias e norte-americanas. Na busca crescente de lucros, a burguesia passou a financiar a exploração de minas, as monoculturas, a eletrifcação de cidades e a construção de portos, pontes, canais e ferrovias, a fim de favorecer o setor exportador de cada região sob sua infuência. Neste processo, os Estados tiveram um papel importante, pois passaram a apoiar a política imperialista, garantindo o capital investido fora de seus países.
Para justifcar as ações do Estado Imperialista, o neocolonialismo passou a ser visto, ideologicamente, pelas nações dominantes, como uma tarefa árdua que beneficiava muito mais o colonizado do que o colonizador. Caracterizava-se como uma missão e um “dever moral” do europeu, a fim de acabar com as doenças tropicais, com o canibalismo, o escravismo e o paganismo e de levar a higiene, a instrução, o cristianismo, a ciência, enfim, o progresso aos “povos atrasados”. Do ponto de vista eurocêntrico, a obra civilizadora legitimava a dominação política e econômica, desrespeitando a cultura das populações submetidas.
A posse de colônias signifcava ter o “status” de potência. Não possuí-las era reconhecer uma situação de inferioridade em relação aos demais países industrializados. Esta situação era marcada pela tensão permanente entre as potências devido à divisão desigual das áreas de dominação (países como Alemanha e Itália, não ficaram satisfeitos com a parte que lhes coube na divisão das colônias), o que provocou a ruptura no equilíbrio europeu. Como resultado dessas disputas, as nações industrializadas imperialistas envolveram-se no primeiro conflito mundial, conhecido como Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
A crise do Estado imperialista
As potências européias mantiveram seus domínios coloniais até o final da Segunda Guerra (1945). A partir deste momento, alguns setores das populações dominadas da África e da Ásia passaram a se organizar para conseguirem a independência política formando novos Estados. A reação dos povos, até então subjugados pelas potências capitalistas ocidentais, fcou conhecido como descolonização afro-asiática. Apenas entre os anos de 1945 a 1960, cerca de 40 novas nações confirmaram suas respectivas independências; só em 1960, 17 países se emanciparam.
Contribuíram para esse processo: o enfraquecimento das nações europeias com a Grande Guerra, a participação de soldados africanos na luta contra o nazismo e o fascismo, a influência do modelo socialista (difundido pela Revolução Russa de 1917), a formação de elites locais com acesso a uma educação universitária na Europa, capaz de formular projetos de emancipação.
Na África, as idéias de que os povos africanos tinham um destino comum e de que só pela união poderiam enfrentar os desafios que o futuro lhes havia reservado existiam desde o final do século XIX. Intelectuais afro-descendentes, do Caribe e do sul dos Estados Unidos, organizaram, em 1900, a primeira Conferência Pan-Africana, com o objetivo de criar um movimento de solidariedade às populações negras das colônias. Aos poucos foi sendo construído um arsenal ideológico contra a dominação europeia.
Ainda na década de 1940, grande parte dos antigos domínios ingleses, holandeses e norte-americanos no Pacífico tornou-se independente. Tal foi o caso da Birmânia, Ceilão, Índia, Paquistão, Indonésia e Filipinas. Em 1950 tornaram-se independentes: Vietnã, Camboja e Laos, entre outros países asiáticos. Na África, movimentos de libertação explodiram a partir de 1960 e se completaram em meados de 1970.
Entre os inúmeros casos, pode-se destacar a Índia como exemplo de descolonização. Esta nação conseguiu sua emancipação política através da atuação do Partido do Congresso. De tendência moderada e reformista, o movimento procurou limitar a participação de sujeitos históricos que procuravam mudanças extremas, ou seja, o Partido do Congresso não desejava mudanças profundas na estrutura da sociedade. Destacou-se a atuação de Mohandas Karamchand Gandhi, conhecido como Mahatma Gandhi (1869-1948), defensor da não-violência, pois acreditava que a salvação da Índia estava condicionada a má transformação espiritual e não política. Pregando a não cooperação com os ingleses, Gandhi inviabilizou as condições materiais de dominação no país. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ocorreu a união do Partido do Congresso com a Liga Muçulmana; representantes de uma minoria da Índia negociou com a Inglaterra a emancipação de dois países: Índia e Paquistão (de maioria Muçulmana).
Os movimentos nacionalistas uniram povos na busca da independência, porém não alteraram a situação de extrema desigualdade social nestas áreas. Os países recém independentes mantiveram a estrutura econômica, ou seja, exportadores de matéria prima e importadores de produtos industrializados. A herança colonial foi terrível, traduzia-se na miséria da maior parte da população e na rivalidade de caráter étnico e religioso.
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