A inserção de escravos negros na Amazônia se intensificou a partir da criação, em 1755, da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, durante o período pombalino. Pretenderia-se entre estas determinações ao estímulo da produção agrícola, dando início a substituição do braço do indígena, pelo do negro, nos trabalhos da lavoura.
No Pará e no Maranhão os negros foram destinados sobretudo para os canaviais e as lavouras de arroz e algodão. O cultivo da cana-de-açúcar foi uma das primeiras atividades econômicas dos europeus na Amazônia.
Há indícios de que os holandeses, antes dos portugueses, tenham cultivado cana e instalado pequenos engenhos nas proximidades da foz do Amazonas. Francisco Caldeira de Castelo Branco, o fundador da cidade de Belém (1616), foi o pioneiro no latifúndio açucareiro do Pará, onde a conquista européia iniciou-se por conseguinte, sob interesse imediato desta cultura. Embora incipiente, a lavoura da canade-açúcar prosperou nas cercanias de Belém e espalhou-se com maior intensidade, pelas margens dos rios Guamá, Capim, Acará, Mojú e Igarapé Miri.
Próximos uns dos outros, esses rios integram uma zona bem distinta de acesso relativamente fácil. A cultura da cana-de-açúcar aí se enraizou e adquiriu importância econômica. Aí, portanto, se instalaram engenhos, com numerosa escravaria, e se estabeleceu um regime social típico.
Nessa região se localizaria a maior concentração de escravos na Amazônia. O contingente africano não foi tão numeroso, como no Maranhão, mas a história da escravatura africana no Pará se escreveu com os mesmos processos, determinando, como em toda parte, as mesmas reações do escravo. A mais freqüente, a busca da liberdade pela fuga e posterior agrupamento nos quilombos. A lavoura canavieira ocupou uma área bem mais extensa do que a atual. Estendeu-se praticamente em redor da área marajoara, ocupando inclusive certa área da ilha de Marajó. Subiu também a calha do Tocantins. Em Cametá, por exemplo, em 1752, dentro da vila de sítios da redondeza, somavam-se 129 proprietários agrícolas, cujo pessoal trabalhava especialmente na lavoura da cana, cacau e nos roçados de espécies alimentícias, revelava o ofício de 12 de novembro daquele ano, da Câmara local a Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
Culturicidade e escravidão – entre relações sociais e produtivas, não se pode considerar desprezível a contribuição cultural africana na Amazônia. Essa contribuição se manifesta nos folguedos populares, na
culinária, no vocabulário, enfim nos vários aspectos do folclore regional.
Todavia não se pode testemunhar a sobrevivência de uma culturicidade puramente africana, pelo menos no Pará, onde assim como em várias outras realidades da formação social e colonial, ocorreriam às chamadas trocas culturais e simbólicas, envolvendo as culturas aqui existentes nesta formação. No Pará e Maranhão as culturas sudanesas e bantas não se contrapõem. Não há indícios de antagonismo tribais: ao contrário, tudo parece mostrar, na manifestação exterior da cultura desses povos, tendência para a convergência num só grupo, solidário culturalmente, pela condição de escravo. Pode-se falar de certa individualidade, ou de presença marcante, do chamado negra mina, povo fânti-axanti, cujas peculiaridades culturais se conservam mais ou menos homogêneas até nossos dias, principalmente no Maranhão.
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e muito legal tudo isso
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