Segundo arqueólogos, cavidades serviam para guardar água.
Graças a elas, foi possível povoar áreas distantes dos rios.
Ao longo dos anos, mais e mais evidências de que a Amazônia abrigou no
passado grandes sociedades organizadas têm surgido. Na região de Santarém (PA),
cientistas estudam intrigantes depressões no solo, aparentemente construídas
pelo homem, possivelmente utilizadas como reservatórios de água pelos moradores
ancestrais da floresta. Graças a elas, teria sido possível que assentamentos se
instalassem em áreas mais secas da Amazônia, em terra firme distante dos rios.
Os arqueólogos Per Stenborg, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia,
em parceria com os brasileiros Denise Schaan, da Universidade Federal do Pará,
e Márcio Amaral Lima, do Laboratório de Arqueologia Curt Nimuendaju, também no
Pará, mapearam cerca de 30 destas cavidades nos últimos quatro anos.
Curt Nimuendajú foi um explorador alemão naturalizado brasileiro que
encontrou algumas dessas depressões ainda na década de 1920. Mas aquelas
encontradas por ele só tinham alguns poucos metros de diâmetro. Nimuendajú
supôs que eram resquícios de tentativas de antigos indígenas de cavar poços
para achar água durante a seca, e não as estudou mais a fundo.
Stenborg, Schaan e Amaral-Lima, no entanto, encontraram buracos com até
cem metros de diâmetro, com formatos geométricos, junto a outros resquícios de
assentamentos humanos.
A descoberta desses indícios de ocupação de áreas distantes dos rios
pode explicar relatos dos primeiros viajantes que chegaram à Amazônia, como do
espanhol Francisco de Orellana, que percorreu o Rio Amazonas entre 1541 e 1542,
e cita a existência de “cidades”, mesmo em áreas de terra firme distantes dos
rios, algo que contraria as versões tradicionais dos historiadores, que
consideram a região amazônica sempre pouco povoada.
“A intervenção europeia a partir do século XVI resultou no colapso da antiga
estrutura social e política, e no abandono da maioria dos assentamentos da
Amazônia. A chegada dos europeus trouxe consequências desastrosas em todas as
partes das Américas, como as guerras, epidemias, tráfico de escravos,
perseguição e opressão, resultando num padrão de descontinuidade nas sociedades
ameríndias pré-contato e pós-contato. Levando em conta a informação associada a
Orellana, é bastante provável que os assentamentos de terra firme da região de
Santarém ainda estivessem habitadas na época de sua viagem”, comenta Stenborg.
As depressões ainda não foram datadas com carbono 14, mas o pesquisador
sueco estima que, pelo tipo de material encontrado e pelo conhecimento que se
tem de outros sítios arqueológicos, é provável que tenham sido construídas
a partir do ano 1000.
Os cientistas vão continuar estudando os achados na região de Santarém
para determinar de forma mais precisa como eram as antigas ocupações. Não há
ainda, por exemplo, um cálculo de quantas pessoas podem ter vivido com a água
estocada nos reservatórios.
Os arqueólogos acreditam que, com a continuidade das pesquisas, mais
depressões do tipo devem aparecer. A expansão da atividade agrícola na área
transforma o trabalho numa luta contra o tempo, pois a ocupação das terras
naquela parte do Pará pode destruir muitas evidências.
Fonte: Dennis Barbosa Do Globo Amazônia, em São Paulo
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