Crise no mundo árabe se solidifica com
a saída de Mubarak, sendo a segunda ditadura a ruir na região em
menos de um mês. Na Tunísia, no dia 14 de janeiro, a Revolução do Jasmim levou
o ditador Zine el Abidine Ben Ali a abandonar o país, em meio ao movimento que
se alastrou para outros países, causando protestos na Mauritânia, Argélia,
Jordânia e Iêmen.
Hosni Mubarak ganhou
ascensão na Força Aérea, quando teve papel de destaque na guerra de Yom Kippur
contra Israel. Em 1975 assumiu a presidência quando islamitas mataram a tiros
seu antecessor, Anwar Sadat, em um desfile militar em 1981.
Mubarak se beneficiou
de artigos da Constituição egípcia que ditam mandatos presidenciais de seis
anos, com um número de reeleições indefinidas. Além disso, alterações à lei
fizeram com que a vitória de candidatos de outro partido que não o seu fosse
praticamente impossível.
Sob denúncias de
corrupção e em meio a diversas acusações de abusos de autoridade e prisões
tornadas possíveis devido ao estado de emergência, em vigor há 30 anos no país,
a imagem de Mubarak deteriorou-se ao longo dos anos.
O Vice-Presidente Omar Suleiman
anunciou, a meio da tarde, que Hosni Mubarak tinha apresentado o pedido de
demissão (sexta-feira, 11 de fevereiro) e revelou que o poder de dirigir o país
passou para o Conselho Superior Militar, sendo esta decisão saudada
efusivamente pelos cerca de três milhões de pessoas que se tinham concentrado
em várias cidades do Egito.
Rumores sobre a eventual demissão de Hosni Mubarak começaram a circular ao fim da manhã com uma rede televisiva da Arábia Saudita a ser a primeira a dizer que o ex-presidente do Egito tinha abandonado a capital do país, juntamente com a sua família, para destino incerto.
De imediato um porta-voz do Governo confirmava que Mubarak tinha saído do Cairo em direção a Sharm el Sheik, onde habitualmente passa os fins-de-semana. Porém, a meio da tarde, um comunicado do Governo clarificava a situação, ao referir que “devido à difícil situação do país, o Presidente Mubarak tinha apresentado a sua demissão, delegando os poderes no Conselho Superior Militar”.
Neste momento, perante esta situação, existem
alguns aspectos que estão por clarificar. Para já, importa saber qual o papel
que está destinado ao Vice-presidente Omar Suleiman e ao Governo que foi
recentemente empossado por Hosni Mubarak. Por outro lado, resta saber qual a
posição e o papel que os militares estão dispostos a jogar na vida política do
país. Ou seja, se entregam o poder à sociedade civil – a quem e de que modo -,
qual o calendário político que vai ser elaborado para dar resposta às
reivindicações dos manifestantes.
Enfim, falta saber se os militares vão regressar aos quartéis ou se, pelo contrário, caem na tentação de tomar em mãos a liderança do processo de transição, o que poderá levar a que aqueles que clamavam pela saída de Mubarak possam ser os mesmos a ter de iniciar novas formas de luta para evitar que se esteja perante um golpe de Estado palaciano desencadeado pelos militares.
Omar Suleiman, antigo chefe dos serviços secretos e o homem que Mubarak escolheu para ajudá-lo a evitar aquilo que acabou por suceder, é uma figura incontornável da vida política do Egito, não só pelo seu relacionamento com os Estados Unidos, como também pela aceitação que começou a ter junto dos manifestantes da Praça Tahrir.
Seja qual for o caminho escolhido pelos militares para os passos que se seguem à demissão de Hosni Mubarak, a verdade é que continua a ser uma força poderosa, com um enorme capital político e que nunca poderá ser menosprezada.
Os Irmãos Muçulmanos, principal força da oposição, já fez saber que está contra a militarização da vida política do Egito, defendendo que devem ser as forças da sociedade civil a liderar o processo de transição e de preparação das próximas eleições. Esta reação prova que a presença e o papel que os militares se preparam para ter na vida política do país está sob uma minuciosa observação crítica, que pode ser devidamente acompanhada por outras forças partidárias.
Para já, o momento no Egito é de festa explosiva, com a população a dar largas e incontidas provas de contentamento pelo abandono de Hosni Mubarak, mesmo não sabendo o que lhe reserva o dia de amanhã. Ontem, logo pela manhã, o Conselho Superior Militar esteve reunido e apelou à população para que voltasse para casa, de modo a possibilitar que o país possa regressar ao seu normal estado de pleno funcionamento.
Garantindo que recorrerão a todos os meios (não especificando quais) para preservar a segurança e a integridade do país, as chefias militares prometeram que quando a situação se normalizar será levantado o estado de emergência, o que tem sido uma das principais exigências dos manifestantes que se encontram na Praça de Tahrir.
Ao longo de todo o dia a tensão foi um fator dominante em todas as ruas do Cairo, onde os militares tomaram as posições defensivas necessárias para que os manifestantes não se pudessem aproximar do Palácio Presidencial, que era o seu principal objetivo.
As forças armadas egípcias, com cerca de 400 mil homens, são das mais bem equipadas no mundo árabe e têm sido um garante da integridade do país, desde os tempos da guerra com Israel até à atualidade, onde depois de evitarem que o Egito fosse uma retaguarda do extremismo palestiniano contra Israel, estão a conseguir controlar uma situação de extrema tensão entre os que defendem e os que estão contra Hosni Mubarak.
Mas começam a surgir sinais de que a coesão das forças armadas egípcias está a sofrer um rude teste, com o exército a apoiar os manifestantes e a força aérea a defender o seu ex-comandante Hosni Mubarak, que inclusive habitou durante 30 anos no seu quartel-general.
Apesar das reações optimistas vindas um pouco de todo o mundo, as próximas horas serão determinantes para se saber a forma como as coisas irão desenrolar-se a partir de agora.
Créditos: Jornal de Angola
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