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terça-feira, 25 de junho de 2013

China: da dominação imperialista à expansão capitalista

Por Ederson Santos Lima

No início do século XIX (1801-1900), a dinastia Manchu, que controlava o Império Chinês desde o século XVII, estava atenta aos interesses dos ocidentais na riqueza da China, razão pela qual fechou suas portas ao comércio exterior. A única exceção a essa regra foi a manutenção das relações comerciais com o porto de Cantão, o que, no entanto, não foi suficiente para as chamadas potências imperialistas do século XIX (Inglaterra, Estados Unidos, França, Rússia e Japão), que desejavam ter mais portos livres, mais consumidores chineses e, conseqüentemente, mais lucros.

Para obter esse espaço, os ingleses não demoraram a contrabandear grandes quantidades de ópio para o território chinês, provocando a reação do Império, que tentava impedir a propagação desse entorpecente. Em 1839, o governo chinês apreendeu um carregamento inglês de ópio, o que fez do combate entre ingleses e chineses apenas uma questão de tempo. Foram os ingleses que declararam guerra, dando início à chamada Guerra do Ópio, na qual a China foi derrotada em 1842. Com a derrota, os chineses foram obrigados a assinar o Tratado de Nanquim, que estabelecia a abertura dos portos aos ingleses e a entrega de Hong Kong, dando início à dominação ocidental do gigantesco Império.

As investidas de países ocidentais ao Oriente não pararam por aí. Japão e Rússia também foram alvo de ataques.

Em 1860, franceses e ingleses invadiram a capital chinesa, Pequim, com o apoio de norte-americanos e russos, e obrigaram os orgulhosos chineses a aumentar as vantagens concedidas a países estrangeiros: aceitar a instalação de embaixadas e a ação de missionários cristãos.

Em 1900, a China tentou resistir por meio da ação de um grupo de nacionalistas radicais, que se esforçou para reduzir a dominação estrangeira sobre o país. Chamados de boxers pelos ingleses, os integrantes desse grupo conseguiram provocar certo medo nos estrangeiros, mas isso não evitou a exploração sofrida pelo Império, que se prolongou até a ascensão dos comunistas em 1949.

1949: A revolução socialista de Mao Tsé-tung

O povo chinês, que havia sido saqueado, dividido e humilhado pelas chamadas potências imperialistas durante o século XIX e XX, lutou contra a sangrenta invasão japonesa, que chegou a ocupar mais da metade do território chinês nos anos 30 e 40 do século XX. Por isso, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung acabaram por receber grande apoio da população, que via o esforço dos militantes comunistas como uma luta antiimperialista que devolveria à China o seu lugar de grandiosidade, ocupado no passado. No imaginário da população chinesa, era como se uma nova dinastia imperial, jovem e forte, chegasse ao poder.

                                                             Foto: National Arquives (196235)
Mao Tsé-tung discursando para correligionários em 12 de junho de 1944.

Após contribuírem com a expulsão dos japoneses, os “comunistas” ainda tiveram que lutar contra os “nacionalistas” chineses, liderados por Chiang Kai-shek, que comandava o Kuomintang — Partido Nacionalista da China. Com a derrota, os nacionalistas acabaram por fugir para a Ilha de Formosa, onde, em 8 de dezembro de 1949, fundaram a cidade de Taiwan.

O que ocorreu no período em que a China esteve nas mãos dos comunistas? O que os comunistas fizeram, em 1949, para reconstruir um país de aproximadamente 540 milhões de habitantes, explorado pelos ocidentais e dominado pelos vizinhos japoneses durantes anos?

Uma das primeiras tentativas de reconstrução foi a elevação da produção agrícola. Nesse sentido, pode-se considerar que houve sucesso, pois, nos primeiros sete anos da Revolução Chinesa (1949-1956), a produção agrícola foi ampliada em 70%.

Mas o planejamento — uma característica dos países que passaram por regimes socialistas — não parou na agricultura, seguiu para as áreas da educação e da indústria.

A partir de 1956, com o fim da relação amistosa com os russos, cessou a ajuda material (equipamentos e tecnologia) e financeira que vinha de Moscou. Com isso, Mao Tsé-tung, o Grande Timoneiro, teve que comandar a economia chinesa com seus próprios recursos.

Segundo o historiador britânico Eric Hobsbawn, o fim da ajuda soviética “causou o calvário do povo chinês, assinalado por três estações principais da cruz: a ultra-rápida coletivização da agricultura camponesa em 1955-57; o ‘Grande Salto Avante’ da indústria em 1958, seguido pela grande fome de 1959-1961, provavelmente a maior do século XX; e os dez anos da Revolução Cultural, que acabaram com a morte de Mao, em 1976.” (HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 452.)

Nessa fase, que durou aproximadamente 20 anos, entre 1956-1976, o governo comunista de Mao Tsé-tung elaborou e colocou em prática três grandes planos de desenvolvimento socioeconômico: a coletivização da agricultura (1955-1957), o Grande Salto Avante (1958-1960) e a Revolução Cultural (1966-1969).

O primeiro grande projeto, a coletivização da sociedade chinesa, gerou em poucos meses o espantoso número de 24 mil comunas populares, nas quais a vida (inclusive a familiar, como destaca Hobsbawn) passou por um processo radical de socialização coletiva — as escolas e refeitórios foram coletivizados, o que possibilitava que as mulheres fossem trabalhar nos campos. Passaram a ser oferecidos seis serviços básicos aos cidadãos chineses, para substituição da renda financeira (salários e renda oriunda de venda): alimentação, assistência médica, educação, funeral, corte de cabelo e cinema.

O passo seguinte, a implantação do projeto Grande Salto Avante (ou Grande Salto para Frente) tinha por objetivo industrializar maciçamente a economia chinesa e gerar finalmente a igualdade socialista, tão almejada.

O fracasso dessas duas iniciativas de Mao foi tão retumbante que em 1959 e 1960 a China conheceu uma das maiores crises de alimentos da História mundial, gerando a morte de milhões de camponeses, bem como a desorganização da sociedade milenar chinesa.

A conseqüência desse fracasso foi o isolamento de Mao e seu afastamento das políticas internas do país. Porém, logo o Grande Timoneiro buscou voltar a comandar o país e começou a denunciar a existência de “idéias burguesas” e “mentalidade capitalista”, tanto no partido quanto na sociedade chinesa. Para combatê-las, Mao propôs, em 1966, uma Revolução Cultural, ou seja, o fim dessa mentalidade (burguesa) na China. 
Na prática, a Revolução Cultural Chinesa assistiu à formação das Guardas Vermelhas — milícias formadas por jovens doutrinados pelo chamado Livro Vermelho — comandadas pela mulher de Mao, Jiang Qing. Formadas por quase 20 milhões de jovens estudantes, as Guardas Vermelhas perseguiram e mataram milhares de professores, trabalhadores e principalmente os líderes do Partido Comunista que se opuseram a Mao. Os números oficiais indicam a morte de 34 mil pessoas, mas analistas do caso chinês apontam que milhões de pessoas foram mortas na Revolução Cultural.

Além de perseguir pessoas, essa revolução queimou livros considerados perigosos e proibiu a execução de peças teatrais que não condiziam com a luta proletária do comunismo de Mao, tal como Romeu e Julieta, de Shakespeare.

Anos 70: a muralha chinesa começa a se abrir

Com o fracasso do Grande Salto Avante e os milhares de mortos na Grande Revolução Cultural do Proletariado, a China passou por momentos de instabilidade política e econômica gigantescos entre 1966-1976. Apesar da figura de Mao ter ficado seriamente abalada como grande líder do país e as reformas políticas parecerem ter sido inevitáveis, o timoneiro manteve-se no poder até sua morte, em 1976.

Na fase final de seu governo, a disputa internacional entre China e URSS fez com que os norte-americanos se aproximassem dos chineses. Esse contato com os americanos gerou importantes mudanças na política externa chinesa, tal como a inserção do país como membro da ONU, em outubro de 1971, e a expulsão de Taiwan, ilha asiática de economia capitalista para onde se refugiaram os nacionalistas do Kuomintang.

Apesar do fracasso econômico dos planos de Mao e das perseguições políticas violentas do regime comunista, os índices chineses ao final da Era Maoísta não podem ser considerados ruins se os compararmos com os de outros países. Seguem alguns números apresentados por Hobsbawn: “No fim do período de Mao, o consumo médio de alimento chinês (em calorias) estava pouco acima da média de todos os países, acima do de catorze países nas Américas, 38 na Ásia, com exceção da Malásia e Cingapura. Seis vezes mais crianças iam à escola primária do que quando Mao chegou ao poder... isto é, uma taxa de matrícula de 96%, comparada com menos de 50% em 1952... (Hobsbawn, 1995, p. 455.)

Veja algumas fotos que registraram essa aproximação entre a China e o Ocidente:

Foto: National Archives (194759)
Encontro de Mao Tsé-tung e Richard Nixon (presidente norte-americano), 
em 29 de fevereiro de 1972.


Foto: National Archives (NLNP-WHPO-MPF-C8488(02A)
Discurso de Nixon durante jantar entre norte-americanos e chineses.


Foto: National Archives (NLNP-WHPO-MPF-C8549(25A)
Casal Nixon visitando a Grande Muralha da China, em 24 de fevereiro de 1972.


A China com um pé no capitalismo

Foto: National Archives (NLC-WHSP-C-09162-18 A)
Jantar oferecido ao vice-premier da China Deng Xiaoping durante sua visita aos 
Estados Unidos, em janeiro de 1979. O político chinês foi recepcionado 
pelo presidente americano Jimmy Carter e o ex-presidente Richard Nixon.
Data: 29.01.1979


Foto: National Archives (NLC-WHSP-C-09212-03)
Deng Xiaoping e Jimmy Carter negociando acordos diplomáticos entre
 Estados Unidos e China, em 31 de janeiro de 1979.

Com a morte de Mao em 1976, ascende ao poder Deng Xiaoping, um comunista de centro favorável à liberalização progressiva do regime chinês. Esse processo acabou por afastar do comando do partido comunista chinês os representantes considerados “maoístas”, ou seja, os defensores das políticas aplicadas por Mao.

A partir da chegada de Deng Xiaoping, a China passou a ser levada lentamente a um regime misto, que procurava liberar economicamente o país, mas, por outro lado, mantinha a estrutura de partido político único, ou seja, com restrições à participação democrática. Ao longo dos anos 80 e 90 do século XX, foram tomadas algumas medidas, como a descoletivização das terras, o encerramento das comunas populares, o incentivo à autonomia das províncias e também a valorização de associação entre empresas chinesas e estrangeiras. Essas medidas acabaram por reaquecer a economia chinesa.

Ao abrir suas portas à economia capitalista, a China passou a realizar atividades que visavam integrá-la a toda a rede de comércio mundial. Em 1990, foram criadas as ZEEs — Zonas Econômicas Especiais —, nas quais empresas multinacionais podiam instalar seus parques industriais. Em 1997, a região de Hong Kong, que estava sob posse britânica, voltou para os chineses e estimulou ainda mais o capitalismo chinês. Em 2001, a China foi aceita na Organização Mundial do Comércio (OMC), a instituição que regula as atividades comerciais no mundo. Esse conjunto de medidas fez com que o PIB — Produto Interno Bruto — chinês, por vários anos seguidos, apresentasse números que podem ser considerados fantásticos em comparação com os de outros países em desenvolvimento, como o Brasil.

Disponível em http://www.aprendebrasil.com.br/Central_atualidades/Historia.asp

Um comentário:

  1. Importante texto de História Econômica das consequências sócio-econômicos dos países que ficaram sob o domínio de países capitalistas. Além da China, a África e a América Latina foram "vítimas" da ambição dos países industrializados na época. Sugiro fazerem o caso da Índia, Sudeste Asiático, África, América Latina e o Brasil.

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