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quinta-feira, 25 de julho de 2013

As Missões Religiosas e a Ocupação do Vale Amazônico


As missões e os fortes desempenharam papéis importantes no Vale do Amazonas quanto à expansão territorial e a consequente colonização. Contribuíram para fixar marcos da penetração portuguesa naquele território disputado por outros povos.

Sempre de sentinela nas lonjuras do Vale estavam os fortes, instalados ao longo do século XVII: eram unidades pequenas, com poucos homens e escassas peças de artilharia. Isto, entretanto, não era empecilho para que enfrentassem os ataques freqüentes de estrangeiros ou de nativos.

Em 1669 ergueu-se o forte de São José do Rio Negro, evitando que espanhóis descessem pelo Rio Amazonas. Os fortes do Paru e Macapá, fundados em 1685, visavam impedir a passagem dos franceses da Guiana.

As ordens religiosas chegaram em épocas diferentes à região. Por exemplo: os carmelitas, em 1627, e os jesuítas, em 1636. Deparavam-se, porém, com os mesmos obstáculos como a competição entre os colonos e entre as próprias ordens religiosas pelo "direito de administrar o indígena", visto tanto como mão-de-obra quanto como fiel servo de Deus.

A disputa acirrada entre as ordens exigiu a intervenção governamental.

Na tentativa de resolver esta contenda, que envolvia também a ocupação do Vale Amazônico, inúmeras Cartas Régias fixaram as áreas de atuação das ordens. Os franciscanos de Santo Antônio receberam as missões do Cabo do Norte, Marajó e Norte do Rio Amazonas; à Companhia de Jesus couberam as dos Rios Tocantins, Xingu, Tapajós e Madeira; os franciscanos ficaram com as da Piedade e do Baixo Amazonas, tendo como centro Gurupá; os mercedários com as do Urubu, Anibá, Uatumã e trechos do Baixo Amazonas; e os carmelitas com as dos Rios Negro, Branco e Solimões.

Nos anos finais do século XVII as missões religiosas cobriam grande parte do espaço que viria a constituir a atual região amazônica brasileira.

O papel do indígena na ocupação do Vale do Amazonas era de extrema importância. Não se dava um passo sem ele, pois conhecia o território, sabendo se movimentar naquela área desconhecida pelo europeu.

Os nativos eram os guias pela floresta ou pelos rios. Canoeiros, conduziam as embarcações nas longas expedições fortemente escoltadas, em meio a milhares de quilômetros, pelos cursos emaranhados d'água. Eram também caçadores, identificando a variada fauna, e coletores das "drogas do sertão", pois conheciam como ninguém a flora local.

A coleta se organizou no Vale sob a coordenação dos missionários. Os padres, que monopolizavam o trabalho indígena, usavam um artifício para que os nativos extraíssem elementos da flora em grande quantidade. Alegavam que, além das partes destinadas aos adultos, aos velhos e às crianças, deveriam extrair outra, destinada a Tupã. Esta fração - "Tupã baê" - acumulada nos depósitos das missões, era, posteriormente, exportada para a Europa onde seria comercializada com grande lucro.

Conduzido pelos nativos, o "homem branco" penetrava pelo coração pulsante da mata espessa, formada por imenso e heterogêneo verde, onde não bastava querer para efetivamente ocupar. Era uma tarefa complexa, em meio a terrenos submetidos a chuvas constantes que provocavam um aumento no nível das águas que, por sua vez, arrastavam e deslocavam grandes porções de terra próximas aos cursos dos rios. Por conta disto, a exploração detinha-se no que a floresta oferecia e possibilitava espontaneamente.

O isolamento de alguma canoa significava extremo risco; por isto, iam em grupos pelos igarapés, sob a copa de árvores gigantes, geralmente de folhas largas, cercados pelo silêncio cortado pelo zumbido dos insetos e pelo canto das aves. Assim, pouco a pouco, estes aventureiros divisavam, no lusco-fusco da floresta equatorial, um vale repleto de diferentes espécies animais e vegetais vivendo em equilíbrio.

Pelos cursos d'água - "estradas líquidas", segundo o historiador Caio Prado Júnior -, vias de comunicação natural, iam sendo coletadas especiarias diversas, aproveitadas e utilizadas no comércio: plantas alimentícias e aromáticas como cravo, canela, castanha dita do Maranhão, salsaparrilha, cacau etc. Também eram extraídas madeiras valiosas e produtos de origem animal, desconhecidos, como uma espécie de óleo utilizado na alimentação e na iluminação, obtido dos ovos da tartaruga, ou o "manacuru" (peixe-boi), exportado salgado e seco.

Aos olhos dos colonizadores, o Vale Amazônico apresentava-se com possibilidades incalculáveis, inclusive dando a impressão de que seus produtos podiam substituir as especiarias das Colônias perdidas no Oriente.

A colonização que ali se impôs, portanto, fundamentou-se nas atividades extrativas, compondo um sistema original e peculiar que constituiu e marcou a vida econômica da região.

Ordens Religiosas

Na virada do século XVII o domínio português balizava-se na Amazônia pelo posto avançado de Franciscana, a oeste, e por fortificações em Guaporé, ao norte. Os franceses, instalados em Caiena, pretendiam descer o litoral para alcançar o Amazonas, instigando surtidas constantes de sacerdotes, pescadores e predadores de índios. Ao mesmo tempo, as expedições lusas de reconhecimento enfrentavam grandes dificuldades na atual região do Amazonas: no rio Negro, os Manaus, coligados com tribos vizinhas, e os torás, na bacia do Madeira, entregavam-se a guerra de morte contra sertanistas e coletores de especiarias. 

Na zona do Solimões a penetração portuguesa defrontou-se com missões castelhanas, dirigidas pelo jesuíta Samuel Fritz, que floresciam na bacia do Juruá, e talvez mais a leste. Logo chegaram ordens de Lisboa para que forças militares invadissem o território das missões espanholas, a fim de expulsar os  padres e os soldados que as amparavam. Com efeito, entre 1691 e 1697, Inácio Correia de Oliveira, Antônio de Miranda e José Antunes da Fonseca apossaram-se do Solimões, enquanto Francisco de Melo Palheta garantia o domínio lusitano no alto Madeira e Belchior Mendes de Morais invadia a bacia do Napo. Restava aproveitar o imenso espaço conquistado, tornando-o produtivo. A coroa portuguesa, necessitando assim consolidar sua posição, solicitou o trabalho missionário na área.

A obra a que se deviam entregar os religiosos estava compreendida no chamado Regimento das Missões (1686). Incluía, afora a conversão católica dos gentios, sua incorporação ao domínio político da coroa mediante o aprendizado da língua portuguesa, a organização das tribos em núcleos de caráter urbano e, sobretudo, o aproveitamento racionalizado de sua força de trabalho em atividades extrativas e agrícolas. 

Regulada a divisão do território entre as ordens, por meio de cartas régias (1687-1714), vários grupos de religiosos iniciaram a tarefa sistemática de colonização, espalhando suas missões num raio de milhares de quilômetros pelo vale amazônico. 

Foram os carmelitas, acompanhados de perto pelos inacianos e mercedários, que mais aprofundaram a colonização nos antigos domínios espanhóis, ocupando a área atual do estado do Amazonas. As missões jesuíticas espalharam-se pelo vale contíguo do Tapajós e, mais a oeste, pelo do Madeira, enquanto os mercedários se estabeleceram próximo à divisa com o Pará, nos cursos do Urubu e do Uatumã. Os carmelitas disseminaram seus aldeamentos ao longo do Solimões, do Negro e, ao norte, do Branco, no atual estado de Roraima.

Assim distribuídas, as missões entregaram-se a diligente trabalho de exploração econômica em suas circunscrições. A própria metrópole incentivou tal empreendimento, uma vez que perdera seu império asiático e necessitava dar continuidade ao comércio de especiarias, de que o Amazonas se mostrava muito rico. 

Os religiosos corresponderam de imediato a essa solicitação, iniciando as primeiras atividades extrativas de vulto. Firmou-se, dessa maneira, a exportação regular de cravo, cacau, baunilha, canela, resinas aromáticas e plantas medicinais, toda ela sob o controle dos missionários, que dispunham do indígena como mão-de-obra altamente produtiva.

No empenho de converter os gentios à fé católica e de ampliar o comércio de especiarias, ou "drogas do sertão", os religiosos com frequência transferiam suas missões de um ponto a outro, seguindo sempre a margem dos rios. Da multiplicidade desses aldeamentos surgiram dezenas de povoados, a exemplo de Cametá, no deságue do Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio Negro; Santarém, na foz do Tapajós; Faro, no rio Nhamundã; Borba, no rio Madeira; Tefé, São Paulo de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do Amazonas, Itacoatiara e Silves.

Os sertanistas acompanharam os missionários na intensa atividade de exploração do Amazonas. Sua ação, em geral estimulada pelas autoridades coloniais, devia facilitar o trabalho dos provedores da fazenda, sob a direção dos quais corriam os serviços do fisco.

Os Franciscanos

Os Franciscanos da Província de Santo Antônio chegaram a Belém em 1618, mas já estava a mais tempo no Maranhão. Os da Província da Piedade e da Província da Conceição da Beira do Mecho chegaram a Belém nos anos 1693 e 1706, respectivamente.

Esses missionários, até o século XVIII, administraram cerca de 20 aldeamentos indígenas distribuídos por diversas áreas do baixo Amazonas: La do Marajó, região entre a margem esquerda do rio Amazonas e a fronteira da Guiana Francesa, adjacência de Gurupá, distritos do Amazonas até Nhamundá, inclusive o Xingu e Trombetas.

Os Jesuítas

Antes mesmo de ser iniciada a colonização da Amazônia, os Jesuítas já tinham se apresentado na parte norte da América Portuguesa. Em 1607, estiveram na serra de Ibiapada, no Ceará, sob a liderança do padre Luís Figueira. Outros chegaram a São Luís nos anos de 1615, 1622 e, em 1636 e 1643, chegaram até Belém. Mas suas obras missionárias, propriamente ditas, iniciam-se com a chegada do padre Antonio Vieira na Amazônia, em 1653. Essa obra passou por várias fases, perdurou até 1759, quando foram  expulsos definitivamente da Amazônia e de todos os domínios portugueses.

No tempo do padre Vieira, os jesuítas defenderam veementemente a liberdade dos índios, o que lhe custou duas expulsões da região (1661 e 1684). Esses atos foram liderados por colonos leigos descontentes com a política indigenista que praticavam. A partir de fins do século XVII, atuaram como administradores espirituais e temporais em cerca de dezenove aldeamentos indígenas ao longo do rio Amazonas. Pela margem direita e seu sertão azul, no trecho compreendido do delta do rio ate a região do madeira.

Os Carmelitas

Os primeiros carmelitas chegaram a Belém em 1627. Esses missionários administravam todos os aldeamentos indígenas do Solimões a partir do século XVIII quando os portugueses expulsaram os espanhóis da região. Administraram também os aldeamentos do Rio Negro e Branco. A grande maioria desses núcleos coloniais foi transformado em vilas, que atualmente são cidades e municípios.

Alguns dos aldeamentos missionários do Solimões administrados pelos carmelitas foram fundados em fins do século XVII e inicio do XVIII pelo padre Samuel Fritz, jesuíta a serviço do governo espanhol.

Os Mercedários

Os mercedários espanhóis da ordem de Nossa Senhora das Mercês chegaram a Belém, com expedição de Pedro Texeira, em 1639, oriundo do vice-reino do Peru. Administraram uns poucos aldeamentos no delta do Amazonas, mas atuaram, principalmente, na porção territorial que compreende o Rio Urubu até  o baixo Rio Negro.

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