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sábado, 8 de janeiro de 2011

Vestibular UEA - O Humor do Português - João Batista Gomes

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O Humor do Português, do ponto de vista literário, é um livro de crônicas. Contém 30 histórias hilárias, criadas a partir das ambiguidades e dos trocadilhos comuns na língua cotidiana, a língua do dia-a-dia. 


A narrativa flui em primeiro plano, dando origem ao viés gramatical que, dissolvido no contexto, é imediatamente apreendido pelo leitor. “A diferença entre o certo e o errado casa-se com o riso, fazendo emergir a imaginação criativa”.


O livro exibe uma estrutura inédita, cada crônica vem acompanhada das explicações gramaticais necessárias, somente possível porque o autor é escritor e professor. O livro contém mais de 350 lições de português de fácil aplicação no dia-a-dia.


Na visão de Carlos Jennings, coordenador didático do projeto Aprovar, o autor João Batista Gomes "dá lições de língua portuguesa como contador de casos, colocando a arte do prosador acima dos rigores técnicos do expediente. Em crônicas do cotidiano, finge ser muitos para levar a um resultado pouco valorizado no mundo escolar: o desenvolvimento de uma consciência gramatical. Esconde o professor em personagens da realidade na qual quem lê se reconhece. Capturado pela trama assim urdida, o leitor (não há aluno nessa relação) é chamado para o sentido, apreendendo-o sem utilizar-se da regra como pressuposto. Exatamente aí está a vitória do contador de histórias".




VOCÊ ODIA OU ODEIA?

João Batista Gomes

Enquanto espera na fila, é abordado por uma jovem cujo rosto, apesar de bem-cuidado, denota preocupação.

- Eu odio esperar. E o senhor?

- Eu odeio. Odeio esperar, odeio ficar em filas...

A moça fita-o de alto a baixo (não confundir com abaixo) e endireita-se na fila. Instantes depois, volta-se e questiona:

- O senhor odeia ou odia?

- Fila e espera, eu as odeio. 

- E outras coisas? O senhor odia?

- Há coisas na vida que eu amo, outras que eu suporto...

- E gente que fala errado? O senhor odeia, ama ou suporta?

- Assim com olhos grandes e claros, e dentes perfeitos, como os seus, tenho tendência a adorar. 

- Os olhos são naturais. Nasci com eles. Os dentes são postiços. 

- Dentes postiços?! Na sua idade? Custa-me crer...

- Pois creia. Coisas do interior. 
Endireita-se novamente na fila. Três ou quatro passos à frente, ele a faz voltar-se.
- A partir de hoje, passo a odiar dentistas do interior. Eles tiram dentes como quem tira...
- Não tiram só dentes não. Tiram cabaço também. 
Ele se assusta diante da declaração inesperada. Olha ao redor. Ainda bem que ninguém está acompanhando a conversa. São os últimos da fila. 
- Se servir de consolo, aqui, na cidade, a senhorita vai precisar mais dos dentes...
- Isso significa que o senhor não valoriza a outra parte?
- Valorizo. Claro que valorizo. Mas não exageradamente. Se você não tem...
A fila anda mais depressa. O guichê está próximo. Ela confere os papéis. Antes de ser atendida, volta-se e pergunta:
- O senhor se envolveria com uma mulher que fala errado, que tem dentes postiços e que não tem cabaço?
Quando ia responder, o funcionário grita:
- Próximo!
Ela apresenta os papéis, estende o dinheiro, confere o troco. Antes de partir, questiona:
- O senhor não deu resposta à minha pergunta.
- Próximo!
Ele não sabe se dá atenção à moça ou ao funcionário. Ela anda em direção à porta de saída. 
- Próximo!
Despertado por algum instinto anti-rotina (atente no hífen), ele abandona a fila e sai à procura da jovem. Na rua, sem o menor constrangimento, grita:
- Moça sem cabaço!
Muitas mulheres se voltam por causa do chamamento, mas ele só tem olhos para a jovem que o desafiou (atente no uso do pronome átono).
- Quero dar resposta à sua pergunta...
- ?
- Tenho coragem, sim. Não importam os erros gramaticais, os dentes, o cabaço...
- Pois tenho uma surpresa para você...
- ?
- Eu disse tudo aquilo brincando. 
- Brincando?! Tudo brincadeira?
- Nem tudo. Os erros de português são verdadeiros. Mas os dentes não são postiços: são naturais.
- E a outra parte?
- Acredite: ainda está no lugar. 
- Mas não por muito tempo.



CONSCIÊNCIA GRAMATICAL 27


1. ODIAR
a) Regência - Odiar é verbo transitivo direto (exige complemento sem preposição). Por isso, não aceita o pronome átono lhe(s) como complemento. 
Veja construções certas e erradas: 
1. Odeio-lhe muito! (errado)

2. Odeio-a muito! (certo)

3. Odeio-te muito! (certo)

4. Odiar-lhe-ei para sempre. (errado)

5. Odiá-lo-ei para sempre. (certo)

6. Odiar-te-ei para sempre. (certo)

7. Estou sendo sincero: não lhe odeio mais. (errado)

8. Estou sendo sincero: não a odeio mais. (certo)

b) Conjugação - O verbo odiar não segue à risca, no presente, a conjugação dos verbos terminados em -iar, deixando-se contaminar pela conjugação dos verbos terminados em -ear. Veja:



PRESENTE DO INDICATIVO:
Eu odeio 

Nós odiamos
Tu odeias 

Vós odiais
Ele odeia 

Eles odeiam

PRESENTE DO SUBJUNTIVO:
Que eu odeie 

Que nós odiemos
Que tu odeies 

Que nós odieis
Que ele odeie 

Que eles odeiem



2. ABAIXO e A BAIXO

a) Abaixo - O advérbio abaixo é usado em vários sentidos (sempre opondo-se a acima). Veja:
1. Em local menos elevado; embaixo.

Esta cinta de concreto deveria ficar mais abaixo.


2. Em posição subsequente.

As mercadorias abaixo relacionadas devem seguir via aérea.

3. Para a parte inferior, em direção descendente.

Ela escorregou e rolou ladeira abaixo.

4. Em situação ou posição de menor importância.

Aqui, na fundação, o presidente está abaixo do Conselho-Diretor.

5. Ao chão, à terra.

Com auxílio de máquinas, a casa foi abaixo rapidamente.

b) Abaixo - Na condição de interjeição, abaixo faz parte de frases exclamativas de protesto veemente, de reprovação. Veja:

1. Abaixo os maus-tratos!

2. Abaixo a corrupção!

c) A baixo - A locução "a baixo" só se usa em parceria com as locuções "de alto" ou "de cima" . Veja:
1. O muro está rachado de alto a baixo.
2. Antes de autorizar a entrada, ele a olhou de alto a baixo.

3. Os manifestantes interditaram a rua de cima a baixo.

DESAFIO 27
Escolha a letra em que a norma culta da língua NÃO foi respeitada.
a) Tem a ONU uma função precípua: ela medeia a paz entre as nações.
b) Nos dias de hoje, os jovens anseiam por diversões e aventuras.

c) Ações bem-articuladas do Ministério Público remediam injustiças no interior do Amazonas.

d) Declarações do presidente incendeiam os ânimos políticos e provocam mal-estar na bancada governista.

e) Apesar dos maus-tratos que recebe dos familiares, ele não os odeia.


Disponível em: http://culturadetravesseiro.blogspot.com

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